quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Motores de popa de baixa potência manutenção preventiva








Os motores de popa dois tempos (2T) com potência de até 25 HP, carburados, são os campeões de uso entre os pescadores amadores.

Diante disso, considerando o grande número de usuários de motores dessa categoria, algumas medidas preventivas de manutenção se fazem necessárias para o perfeito funcionamento da máquina, contribuindo, assim, para que a aventura do pescador não se torne, no mínimo, um aborrecimento em virtude de uma falha mecânica durante a pescaria.

Na maioria das vezes os defeitos de motores de popa são decorrentes do mau uso ou da falta de manutenção preventiva, de sorte que se o pescador sempre cuidar do seu motor de modo adequado, raramente passará por dificuldades no tão esperado dia da pescaria.

Ademais, grande parte dos procedimentos de manutenção pode ser viabilizada pelo próprio usuário, especialmente se o motor já estiver fora do prazo de garantia, o que evitará a perda desse direito do proprietário.

Na verdade, é bom lembrar que tais procedimentos de manutenção regular apenas visam prevenir um problema e dar ao motor o seu correto uso, razão pela qual, caso já exista um defeito, de gravidade maior, este deverá ser cuidado por um profissional da área, ou seja, o técnico/mecânico em motores de popa. Portanto, a manutenção preventiva, regular e programada, se destina a evitar um defeito e não a solucioná-lo quando este aparecer.

Antes de tudo, recomenda-se ler integralmente o manual do fabricante e seguir as orientações quanto ao momento certo das manutenções regulares.


Seguem as orientações básicas:


► Inicialmente, verificar na linha de combustível se o parafuso do “suspiro” de ar do tanque de gasolina encontra-se aberto e vistoriar se os plugs da mangueira que vai do tanque ao motor estão devidamente conectados e que não apresentam vazamentos de combustível. Deve ser observada a seta indicadora da direção correta da mangueira ao motor, que está gravada na "pera" (bulbo), assim como confirmar se a "pera" está passando combustível ao motor. O filtro de combustível (se houver) também deve ser observado e confirmado se está apertado e sem vazamentos;


Parafuso do suspiro de ar do tanque de combustível

Conector/plug corretamente instalado


► Ao dar partida no motor, aguardar aproximadamente de 03 a 05 minutos em neutro para o correto aquecimento da máquina e, quando em marcha, sempre acelerar progressiva e suavemente sem arrancadas. Não funcionar na máxima aceleração por mais de 10 minutos e, antes de parar, desacelerar também de forma progressiva até a rotação mínima, aguardando cerca de 03 a 05 minutos em neutro para desligar;

► Funcionar o motor com gasolina nova, de boa qualidade e com menos de 30 dias da data de aquisição, no mínimo duas vezes por mês, de preferência com o barco na água, caso contrário, em tambor de plástico no lugar do conhecido “telefone/orelhão”, uma vez que tal sistema não fornece um fluxo de água regular e forte, o que diminui efetivamente a vida útil do rotor da bomba de água do motor, responsável pelo fluxo de água que o refrigera;

► A propósito, a correta circulação da água é um item importantíssimo porque é a responsável direta pelo não superaquecimento do motor (arrefecimento), de modo que cabe ao usuário verificar constantemente e sempre antes de cada pescaria a pressão da água que sai do motor, a qual deve ter um fluxo contínuo, retilíneo e forte;


Fluxo correto de água da refrigeração do motor


► Sempre que for preciso (quando não houver circulação ou estiver fraca a pressão da água) trocar o rotor da bomba de água, o que normalmente ocorre com mais de 300 horas de uso (verificar previsão de troca no manual). Recomenda-se usar incondicionalmente produto original do fabricante e nunca do mercado paralelo. Aliás, o uso das demais peças de reposição originais é sempre necessário em detrimento de produtos de origem desconhecida ou de segunda linha, os quais comprometem o correto funcionamento do motor;

► Ainda que se tenha os cuidados acima, em virtude do álcool que compõe a gasolina brasileira que é bastante agressivo ao sistema de alimentação do motor, é possível que, mesmo com poucas horas de uso, o carburador venha a obstruir, acarretando falhas na marcha lenta ou mesmo impedindo a partida do motor. No caso de motores de baixa potência, o usuário com um pouco de experiência na área de mecânica poderá desmontar e limpar o carburador, especialmente desobstruindo os giclês de “alta” e de “baixa” e limpando a cuba do carburador, com o uso de ferramentas básicas, mas de boa qualidade, de spray  lubrificante e da própria gasolina do motor;

► Quando for necessário desmontar o carburador, ou mesmo outra peça do motor, uma dica bastante útil para não esquecer a correta posição das peças é fotografar com antecedência todo o procedimento de desmontagem, de modo que assim o usuário poderá rever as imagens anteriores ao desmonte;

► No caso de motores 2T, deve-se usar a mistura de óleo (TCW3) indicada para o uso náutico e na proporção precisa e correta que, depois do período de amaciamento do motor, normalmente é de 50:1 (50 litros de gasolina para 1 litro de óleo – 25 litros de gasolina para 500 ml de óleo...). Todavia, é necessário consultar o manual do fabricante sobre tal proporção;

► Após cada uso do motor de popa, desconectar a mangueira de alimentação do combustível e funcioná-lo, em neutro e em baixa rotação, na água doce por aproximadamente 5/10 minutos até acabar a gasolina, deixando secar a cuba do carburador. O ideal seria drenar a gasolina pelo parafuso da cuba do carburador, porém esse procedimento reiterado poderá danificar a fenda ou rosca do dito parafuso sendo, portanto, desaconselhado esse procedimento de forma constante e regular, o que poderá ser feito apenas de modo eventual, quando do armazenamento do motor por períodos prolongados;

► Caso não disponha do manual do proprietário, normalmente se deve trocar o óleo da rabeta (óleo 90 para transmissões, tipo hipóide API GL5) com 50/100 horas de uso, bastando, para tanto (com chaves adequadas e de boa qualidade para não espanar as roscas, fendas etc.), retirar os dois parafusos da lateral da rabeta e, com o motor na vertical, deixar escorrer todo o óleo usado. Após, inserir o óleo novo (pode usar bisnagas plásticas de bico) pelo parafuso inferior até derramar pelo orifício superior, que é a marca limite do óleo. Depois, fechar primeiro o parafuso de cima e, em seguida, o de baixo;


Parafusos da troca de óleo da rabeta - superior e inferior


► Limpar com escova de aço os anodos de sacrifício sempre que eles estejam com acúmulo de sal, cracas ou oxidados. Quando desgastadas em torno de 50%, estas peças devem ser trocadas, sob pena de a eletrólise atacar a pintura e demais peças de metal do motor;


Anodo no motor

Limpeza do anodo

Anodos limpos


► Também, a cada 50/100 horas de uso, recomenda-se retirar as velas de ignição e limpar as partes carbonizadas com escova de aço. Por experiência própria, as velas do motor têm uma vida útil de no mínimo 300 horas de uso, desde que não apresentem defeitos como a quebra do isolador cerâmico ou mesmo desgaste prematuro do pino da centelha;

► Sempre que necessário, todos os graxeiros devem ser lubrificados com graxa de boa qualidade, especialmente aqueles do eixo central do motor. Para isso, uma bomba com bico de encaixe adequado aos graxeiros do motor se faz necessária, caso contrário poderá danificar e quebrar as entradas do lubrificante;


Graxeiro


► A lavagem externa com água doce também é preciso depois de cada uso. Em seguida e após o resfriamento do motor, retira-se o capô e, caso se verifique no bloco sinais de zinabre ou acúmulo de sal (uso no mar), lava-se a parte interna do motor com água doce, bem fraca e com cuidado para não entrar nos orifícios, retirando as crostas com a ajuda de uma escova, que poderá ser uma escova de dente usada. Com um pano macio efetua-se a secagem e aplica-se uma leve camada de silicone spray na parte interna, cujo produto, se aplicado em pequenas quantidades e sem exageros, protege as partes metálicas da corrosão e as partes emborrachadas do ressecamento;

► Os motores de baixa potência atuais normalmente usam cabos de aço no sistema de aceleração, como os de bicicleta e moto, os quais devem ter os seus terminais lubrificados com óleo mineral ou mesmo graxa, eis que é exatamente nessa entrada dos cabos onde começa a oxidação causando a sua ruptura, especialmente se usado no mar, na água salgada;




► A hélice é outro item do motor extremamente relevante para o seu bom funcionamento, eis que qualquer empeno/amasso nas suas pás causará vibração excessiva e poderá danificar os retentores do óleo e as engrenagens da rabeta, provocando vazamento e contaminação do óleo com a água, além de diminuir consideravelmente o rendimento do motor. Diante disso, o usuário deve ter o máximo de cuidado para não danificá-la quando em navegação e, caso isso ocorra, se os danos não forem de pequena monta, como apenas arranhões, recomenda-se severamente trocá-la por uma nova para evitar futuros problemas mais graves;

► Ao trocar o óleo da rabeta, aproveita-se para retirar a hélice e conferir sua integridade, além efetuar uma limpeza do eixo e lubrificá-lo com uma leve camada de graxa náutica (branca) à base de sabão de lítio;


Hélice em perfeito estado


► Por fim, após a lavagem externa do motor, onde poderá ser usada água com vinagre para retirada de cristais de sal quando usado no mar, um polimento na pintura o deixará bem apresentável praticamente por muitos anos de uso.


As referidas recomendações certamente contribuirão para o correto uso do motor de popa e para prolongar sua vida útil evitando, com isso, aborrecimentos ou mesmo incidentes mais graves durante a pescaria.

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